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Pena de Talião

  • Foto do escritor: Daiane Kinona dos Reis Borges
    Daiane Kinona dos Reis Borges
  • 17 de mai. de 2018
  • 2 min de leitura

Ao Padre José Agostinho de Macedo


				Tu nihil invita dices, faciesve Minerva.
				Horácio, Arte Poética, V, 385

				Invidia rumpantur ut ilia Codro.
				Virgílio, Écloga VII

					(. . .)

				Refalsado animal, das trevas sócio,
				Depõe, não vistas de cordeiro a pele.
				Da razão, da moral o tom que arrogas,
				Jamais purificou teus lábios torpes,
				Torpes do lodaçal, donde zunindo
				(Nuvens de insetos vis) te sobem trovas
				À mente erma de idéias, nua de arte.

					(. . .)

				Sanguessuga de pútridos autores,
				Que vais com cobre vil remir das tendas,
				Enquanto palavroso impõe aos néscios
				E a crédulo tropel, roncando, afirmas 
				Que resolveste o que roçaste apenas
				(Falo das Artes, das Ciências falo);
				Enquanto a estátua da Ignorância elevas,
				Os dias eu consumo, eu velo as noites
				Nos desornados, indigentes lares;
				Submisso aos fados meus ali componho
				À pesada existência honesto arrimo,
				Co'a mão, que Febo estende aos seus, a 
							poucos.
				Ali deveres, que não tens, nem prezas,
				Com fraternal piedade acato, exerço;
				Cultivo afetos à tua alma estranhos,
				Dando à virtude quanto dás ao vício.
				Não me envilece ali de um frade o soldo,
				Ali me esforça ao gênio as ígneas asas
				Coração benfazejo, e tanto e tanto
				Que a ti, seu depressor, protege, acolhe;
				Que em redondo caráter te propaga
				A rapsódia servil, poema intruso,
				Pilhagem que fizeste em mil volumes,
				Atulhado armazém de alheios fardos,
				Onde a Monotonia os mexe, os volve,
				E onde teimosa Apóstrofe se esfalfa,
				Já co'os Céus intendendo e já co'a Terra.

					(. . .)

				Prossegue em detrair-me, em praguejar-me,
				Porque Délio dos prólogos te exclui:
				Pregoa, espalha em sátiras, em lojas
				Que Zoilos não mereço, e sê meu Zoilo:
				Chama-me de Tisífone enteado,
				Porque em fêmeo-belmírico falsete
				Não pinto os zelos, não descrevo a morte;
				Erra versos, e versos sentencia;
				Condena-me a cantar de Ulina e d'anos.
				Agrega o magro Elmano ao fulho Esbarra;
				Ignora o baquear, que é verbo antigo,
				Dos Sousas, dos Arrais somente usado
				Metonímias, sinédoques dispensa;
				Dá-me as pueris antíteses, que odeio;
				De estafador de anáforas me encoima;
				Faze (entre insânias) um prodígio, faze
				Qual anda o caranguejo andar meus versos;
				Supõe-me entre barris, entre marujos
			(De alguns talvez teu sangue as veias honre):
				Mas não desmaies na sua carreira; avante,
			Eia, ardor, coração . . . vaidade, ao menos!
				As oitavas ao Gama esconde embora,
				Nisso não perdes tu nem perde o mundo;
				Mas venha o mais: epístolas, sonetos,
				Odes, canções, metamorfoses, tudo . . .
				Na frente põe teu nome, e estou vingado.
 
 
 

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